terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Filmes e Filhotes

- Ah, por favor, vem aqui pra casa!
- Mas não é muito tarde?
- Claro que não! Pode vir!

Rodrigo estava meio receoso. Não sabia se vinha ou não vinha para minha casa. Ele achava que coisas poderiam acontecer, era um medroso. Depois de muita insistência, ele resolve vir. Ele não morava muito longe da minha casa, depois da subida e virava a esquina e lá estava a casa dele. Ele chegou trazendo um filme.

- Não precisa, a gente tem Sky! Vem, senta aqui. - puxei ele para o sofá de dois andares que tínhamos na sala (assistir Uma Aventura LEGO me fez querer ter um).

Sentamos e fui procurar filmes para assistirmos. Achei um do Super-Homem.

- Gosta dele? - perguntei
- Sim.
- Ah, eu preferia olhar o Flash, mas Super-Homem deve ser bom também! - dei um risinho.

A conversa foi essa. Nem a mais, nem a menos. Assim, sem sentido algum e ainda com um desconfiado fazendo jogo duro, mas mesmo assim eu estava animada. Fazia tempo que não me sentia bem com um amigo. Um grande amigo, pode-se dizer. Ou ainda, melhor amigo. Ele era incrível. Nunca vi uma pessoa me compreender tanto como ele me compreende. Sentamos lado a lado no sofaliche e então lembrei que não tínhamos tiramo uma foto sequer.

- Ah, vamos tirar umas selfies!

Ele ainda se via receoso, mas ficou animado com a ideia das fotos. Fiquei sentada ao lado dele e puxei ele de forma que ficasse escorado no meu ombro. Estiquei o braço com o celular e tirei muitas fotos. Nós ríamos muito e por um momento, quando virei para olha-lo, estávamos tão perto que pude sentir sua respiração em meu rosto, nossas bocas quase se encontrando. Ele se ajeitou no sofá, por que insistia em me evitar? Era algo que nunca iria descobrir. A noite chegara rápido, assim como a chuva.

- Acho que você vai ter que ficar por aqui, essa chuva parece que não vai passar hoje.

Arrumei o sofá para ele dormir e fui apagar a luz. Confesso que senti um clima rolando, pelo menos da minha parte. Quando cheguei no interruptor, olhei para a porta de casa e lá estava meu pai, assim como uma fantasma, me olhando. As luzes no resto da casa estavam acesas, menos a da rua. Eu a segui e ela desapareceu. Entrei e fui para o meu quarto e estavam colocando uma cama a mais, que seria a da minha irmã.

- Por que estão colocando aqui? Ela ronca.
- Estava na hora de ela ter um quarto. - disse minha mãe, surgindo de seu quarto que também estava de mudança.
- Mas precisava ser o meu quarto? Ela tem o dela ali. - apontei para o lado do quarto.
- Em pouco tempo você não estará mais aqui e este quarto será dela.

Nossa, me senti uma intrusa, uma mera inquilina na casa. Senti um leve desconforto quando insinuou que em breve teria que deixar a casa, mas continuei a perceber o que estava acontecendo naquela casa. Parecia uma mudança, caixas empacotadas, gaiolas, quartos quase vazios. Na outra sala entre os quartos tinham duas gaiolas com bichos muito estranhos, mas por um deles me apaixonei.

- O que é esse bicho, mãe?
- Ah, é um... - algo caiu e abafou o som de sua voz, não pude saber o que era, mas sua rara mistura de espécies era linda.

O animal estava dormindo enquanto lhe admirava. Era um tipo de canídeo, parecido com um pug de cor areia e manchas brancas e chocolate. Em seu rosto, uma espécie de bico se mantinha ao lugar de seu focinho. Agora percebia que era uma espécie de filhote de hipogrifo. Abri a gaiola e o peguei, ainda sonolento. Ele era uma bolinha gordinha e fofa, me apaixonei imediatamente.Ele estava com as duas patas da frente enfaixadas e quase não conseguia andar direito, mas também não me contaram o motivo. Mas o que aquele grifo estaria fazendo em uma gaiola? Será que estaria sendo contrabandeado pela minha família que até então não me dera informação nenhuma do que estava acontecendo? Em uma outra gaiola, se encontrava um filhote de ave, de porte relativamente grande pra um filhote, do tamanho aproximado do "puggrifo". Ele ainda era róseo e sem nenhuma pena, parecia filhote de águia-real. Aquele ser não me chamara muito a atenção, mas sua pele rugosa e quente dava uma sensação de maciez quando encostada. Perguntei o que era e me explicou que eram filhotes de calopsitas gigantes.

Guardei o "puggrifo" e fui para o quarto de meus pais. Lá haviam mais bichos. Uma galinha ruiva aparentemente adotou um filhote de peru. Não entendi o por quê de tanto filhote naquele dia, mas estava cheio deles e todos com alguma relação com aves. Peguei o peruzinho para vê-lo mais de perto, ele tinha penas brancas, estranhas para um peru. A galinha mãe adotiva se desesperou e começou a procurá-lo por debaixo da cama, já que ele sempre seguia ela. Assim que soltei, ele foi correndo em direção à ela e se escondeu em suas penas. O detalhe que ele era do tamanho dela e não conseguia mais se esconder, o que nos causou algumas risadas.

A imagem embaçou e voltei para a realidade. Não sei o paradeiro do Rodrigo e nem o que aconteceu depois com os animais exóticos.

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